
Todos nós Umbandistas sabemos que
o desenvolvimento mediúnico envolve vários estágios. Em primeiro lugar o médium
iniciante ao adentrar em uma corrente vai ocupar o lugar de ajudante e cambone.
Ele passará algum tempo auxiliando nos afazeres da casa e auxiliando as entidades
que trabalham na casa. Este tempo é de extrema valia onde o médium terá a
oportunidade de amealhar inúmeros conhecimentos e terá também a oportunidade de
se valer dos aconselhamentos que acompanhará como cambone para se melhorar como
pessoa, não só dentro do terreiro como em seu dia a dia. Esta fase é o primeiro
passo para sua jornada mediúnica que está por vir.
Como tudo na vida estes estágios
levarão algum tempo. Não há nada pré determinado porque cada médium é um
universo em si e, sendo assim, cada um tem seu tempo e seu grau de mediunidade
para ser desenvolvido.
Após o tempo de adaptação e
integração com a casa e seus participantes ele iniciará seu desenvolvimento
mediúnico participando das giras de desenvolvimento realizadas pelo guia chefe
da casa.
Nesta fase, o médium começa a
aprender o que são as irradiações das entidades sobre si, a aprender se elevar
para entrar em conexão com suas entidades, a aprender diferenciar uma
irradiação da outra (a diferença de um guia para outro) até conseguir a
incorporação, ou seja, a conexão completa com suas entidades.
Depois de algum tempo em gira de
desenvolvimento, quando a incorporação já é efetiva é chegado o momento do
médium passar para um novo estágio, o que chamamos de médium de trunqueira. Achamos
relevante mencionar que nem todos os terreiros aderem este processo de
desenvolvimento, cada casa tem sua forma de trabalho de acordo com o guia chefe
porém, como em nossa casa existe este estágio resolvemos compartilhar sua razão
e significado.
Porque eles são chamados médiuns
de trunqueira?
Porque logo após a incorporação
de suas entidades estes médiuns são posicionados próximos a entrada, ou seja, na
porta do Congá, por isto o termo trunqueira. Onde permanecerão até o final do
trabalho. Este local é adequado por facilitar a visualização do guia chefe para
com estes médiuns.
E qual é a finalidade deste
estágio?
O médium iniciante após o período
de gira de desenvolvimento já consegue a conexão com seu guia. Ele aprendeu
nesta fase à incorporar porém, tais incorporações se dão em um curto espaço de
tempo e são acompanhadas e potencializadas o tempo todo pelas outras entidades
atuantes da casa, sendo assim, ele (o médium) ainda não sabe manter esta
conexão por horas seguidas e esta será uma das metas que ele alcançará durante
o tempo em que permanecer na trunqueira. Tanto é que, nesta fase é comum os
médiuns de trunqueira oscilar durante o tempo do trabalho, ligando e desligando
de suas entidades até o dia em que finalmente consegue manter a conexão durante
todo o tempo de trabalho, devidamente incorporados ou irradiados.
Este tempo também servirá para
que ele, o médium, e suas entidades criem laços energéticos ao ponto do médium
reconhece-las pela irradiação que emanam e pelas sensações que causam em seu
campo energético e físico.
O guia por sua vez, aproveitará
este tempo para, aos poucos, ensinar ao seu médium quem ele é, que tipo de
trabalho pretende realizar junto ao médium e passar seus pontos riscados e
cantados.
Assim que esta fase se firma,
devidamente acompanhada pelo guia chefe da casa, chegará o momento em que será
solicitado ao médium incorporado da sua entidade que risque e cante o ponto.
Este é o primeiro momento em que o médium de fato atuará juntamente com sua
entidade revelando se de fato está preparado ou não para iniciar sua jornada
como médium de trabalho, atendendo os assistentes que recorrem à casa onde ele
está se desenvolvendo.
No tempo em que o médium está na
trunqueira alguns cuidados são tomados, como por exemplo:
1 - Não permitir que ele fale com
outras pessoas ou mesmo outras entidades. Como é uma fase onde a incorporação é
inconstante ele poderá se perder no animismo o que poderá comprometer o
restante de sua jornada como médium. Sendo assim, cabe à ele, médium, ficar em
silêncio e concentrado para sentir e observar sua entidade e suas próprias
reações durante a incorporação.
2 - Nada pode ser servido ao
médium da trunqueira sem a autorização do guia chefe. Compreendendo que todos
os alimentos, bebidas e fumos são na verdade elementos magísticos e, portanto,
deverão ser utilizados com sabedoria e dentro da faixa vibracional da entidade
atuante e não de acordo com o paladar e agrado do médium. Apenas água é
permitido ser servida sem autorização.
3 - Observá-los constantemente e
corrigi-los em cada tropeço que possam realizar. Nesta fase é importantíssimo
este cuidado. Esta conduta de correção os ajudará a distinguir os momentos em
que foram eles que atravessaram a entidade, atuando animicamente e, os momentos
em que foram as entidades atuando através da mediunidade deles.
Para encerrar, após algum tempo
trabalhando na trunqueira chegará o momento em que ele riscará e cantará os
pontos de suas entidades e assim receberá a autorização para iniciar seu
trabalho como médium firme.
Porém, vale ressaltar que o
desenvolvimento de um médium nunca tem fim, ele estará em constante aprendizado
e sempre haverá algo mais a melhorar e aprender.
Abraços e Luz,
Mãe Solange de Iemanjá
você esta falando sobre tranqueira ou do Exu tronqueira ?
ResponderExcluirAxé Mãe Nice,
ResponderExcluirNa verdade não estou falando sobre nenhum dos dois, estou falando sobre uma fase no desenvolvimento de um médium. Sei que a prática não é usual e que nem todos os terreiros a utilizam. Nós os chamamos de médium de trunqueira apenas por conta da localização que eles ficam incorporados nesta fase. Esta é uma fase onde pegamos um médium que já consegue a incorporação mas que ainda não compreende bem a entidade, onde ainda falta o entrosamento e a percepção do que o guia deseja ou até mesmo de quem ele é. Então deixamos estes médiuns incorporados o tempo todo do trabalho para aos poucos ir entendendo o mecanismo "guia e médium", até chegar o momento em que ocorre esta afinidade e ele será convidado a riscar e cantar o ponto da entidade e, só então passar para a linha de médiuns de trabalho.
Espero ter esclarecido, caso ainda tenha ficado alguma dúvida estarei a disposição.
Abraços e Luz,
Mãe Solange de Iemanjá