
O que mais percebemos nos
terreiros é a empolgação e o grande interesse pelas manifestações mediúnicas,
principalmente por parte dos iniciantes.
Vemos médiuns preocupados em
saber quem é o Orixá de cabeça, quem é o guia chefe ou de frente que faz parte
de sua coroa, qual a posição corporal que o guia vai adotar (se vai colocar o
braço assim ou assado, se pula ou ajoelha, se grita e bate no peito), se o guia
é forte ou conhecido; obcecados com a idéia de preparar guias (colares) bonitas
e diferentes, esquecendo-se da eficácia e necessidade real de tais objetos de
trabalho, preocupados em aprender mirongas (como fazer e o que usar nestes
trabalhos), enfim, enchem os olhos e as mentes com o externo e superficial.
Diante disto, venho hoje para
trazer algumas reflexões:
1 - Antes de querer saber quem é
o seu Orixá de cabeça, o seu ancestre e o seu juntó, queira conhecer em
primeiro lugar quem são os Orixás, suas funções e energias, o que cada um
representa diante da Criação Divina e o alcance destas manifestações. Apenas
desta forma conseguiremos perceber que não existe este ou aquele mais forte ou
mais importante.
Outra questão que é derrubada
diante deste estudo é parar de culpar os Orixás pelos desequilíbrios humanos.
Exemplo:
- Vemos muitos filhos agressivos,
mal educados e descontrolados dizendo: Sou assim porque sou filho de Ogum, ou
então, porque sou filha de Iansã.
- Vemos muitos filhos vaidosos ao
extremo se melindrando por qualquer coisa, deixando-se levar pelas dores do ego
ferido, dizendo: Me emociono e sou chorão por ser filho de Oxúm.
- Vemos muitos filhos radicais,
controladores e soberbos dizendo: Não tem como negar que sou filho de Xangô.
E por ai a fora....
E eu pergunto: Desde de quando um
Orixá manifesta desequilíbrios HUMANOS?
Estas expressões só servem para
provar a falta de conhecimento e compreensão de quem são e o que representam os
Orixás.
Aproveitando a data comemorativa de Ogum,
esclarecemos que Ogum é o Orixá que irradia ordem, organização, força,
determinação, etc. Sendo assim, Ogum não tem absolutamente nada haver com a
falta de educação e a indisciplina emocional das pessoas. Estas desculpas, nada
mais são, do que uma forma cômoda de se esquivar da auto avaliação e correção
pessoal.
2 - Antes de saber se o guia vai
gritar, ajoelhar, bater no peito e girar, o médium deveria se interessar em
compreender qual a atuação de cada linha de trabalho nos terreiros, deveria em
primeiro lugar aprender a identificar as energias e faixa vibracional que atuam
tais entidades. Ao invés disso percebemos muitos filhos em processos anímicos
durante as giras e por mais que sejam alertados, ignoram os conselhos dados por
seus pais e mãe no santo ou então pelo guia chefe, conduta que ao invés de
acelerar o processo acaba por retardar e prejudicar muito seu desenvolvimento.
Esta conduta geralmente se dá justamente pela ilusão visual, onde à olhos nus,
e a primeira impressão é que o guia que faz e acontece é que é o bom e
poderoso, ignoram que aquele que parece tão quieto e tão normal é que realmente
está manifestado em seu médium, já que, quanto mais evoluída a entidade menor é
o estardalhaço em sua manifestação.
3 - A exacerbada preocupação na
confecção de guias bonitas, diferentes, carregadas de informações,
interpretando que a quantidade e a beleza vão indicar o poder e o grau
evolutivo da entidade manifestante, só comprova mais uma vez o grau de vaidade
do médium que não compreende a utilização destes elementos utilizados pelas
entidades. Queremos deixar claro que nem toda entidade necessita de tal
material para trabalhar e que a garantia do acerto está justamente em aguardar
que a entidade peça sua guia e diga como deverá ser confeccionada, caso ela
necessite deste elemento magístico.
4 - A busca desenfreada por
trabalhos, mirongas, excessos de elementos nos momentos dos trabalhos é mais
uma ilusão acalentada por muitos médiuns que se prendem na manifestação visual.
O médium necessita compreender que ele deve estudar e conhecer todos os
elementos, suas vibrações, serventias e aplicações porém, que não cabe à ele
incorporar "nenhum destes elementos" em seus trabalhos. Utilizar este
ou aquele elemento magístico cabe exclusivamente ao guia atuante, o conhecimento do médium
apenas dará à ele a compreensão e a segurança no momento do trabalho diante de
uma solicitação feita.
5 - Também me chama atenção a
preocupação excessiva em ir pra trunqueira, em ter autorização para atendimento
mediúnico, como se fosse um prêmio, uma promoção . Dai se perde e não se
aproveita o primordial, ser cambone , estudar, amar a pratica da religião,
inclusive fora do terreiro, cumprir todas as obrigações como filho da corrente,
inclusive as obrigações materiais
Enfim, a mensagem que desejamos
passar é que a Umbanda, assim como qualquer outro seguimento de nossas vidas
necessita tempo de aprendizado, dedicação, esforço e conhecimento.
Que o médium, antes de saber quem
é o Orixá ou o guia que atuará através de sua mediunidade, precisa saber quem é
ele mesmo e corrigir suas maiores deficiências morais, comportamentais e
espirituais, para só então poder adentrar nas práticas dos trabalhos
espirituais.
Que a fé necessita estar sempre
acompanhada da razão e conhecimento, buscando aprimoramento e evolução, para
que toda atuação aconteça com fundamento e lógica, escapando assim, das
manifestações de egos e vaidades.
Que todo início sem consciência e
sem correções acarretará numa vida de enganos e sucessivos erros.
MÉDIUNS, ANTES DE TUDO, SEJAM
VERDADEIROS COM SI PRÓPRIOS!
Abraços e Luz,
Mãe Solange de Iemanjá22.04.13