Falando sobre a Quaresma...
A razão que me faz
falar sobre a quaresma são as dúvidas sobre qual conduta a ser tomada nesta
época do ano. Trabalhar espiritualmente ou não trabalhar? Guardar determinados
resguardos ou viver normalmente?
Sendo assim, nada
melhor do que conhecer um pouquinho o assunto.
Antecedendo a
quaresma temos o carnaval uma época considerada por muitos como a época da
loucura, a época onde as pessoas ficam sem freios e dão asas aos seus maus
instintos. Vejamos o que nos fala a respeito Divaldo P. Franco, nas fronteiras
da loucura:
Perde-se na história dos tempos as origens do carnaval. São encontradas nas
bacanália, da Grécia, quando se homenageavam o deus Dionísio. Os infelizes
entregavam-se aos prazeres coletivos, como quase todos os povos antigos. Mais
tarde as festas em Roma chamavam-se saturnália e na sua ignorância e infeliz
caráter pagão até se imolava uma vítima humana. Depois, na Idade Média,
aceitava-se com naturalidade. " Uma
vez por ano é LÍCITO enlouquecer", e tomando corpo, nos tempos modernos,
três ou mais dias de loucura, sob a denominação, antes, de tríduo momesco, em
homenagem ao rei da alegria...
"CARNE NADA VALE" primeira síbala de cada palavra compõe o
verbete CARNAVAL.
Após o carnaval há a quarta feira de
cinzas onde os devotos queimavam suas fantasias para posteriormente jejuarem e confessarem
seus pecados durante o carnaval como sinal de arrependimento.
Em seguida destes dias e após
a quarta feira de cinzas, adentramos na quaresma, uma sequência de dias que
terminam com a comemoração da ressurreição de Cristo, também conhecida como o
domingo de Páscoa.
Vejamos então qual a definição sobre
a quaresma dada pela Igreja Católica:
O que quer dizer Quaresma?
A palavra Quaresma vem do latim quadragésima e é utilizada para designar o
período de quarenta dias que antecedem a festa ápice do cristianismo: a
ressurreição de Jesus Cristo, comemorada no famoso Domingo de Páscoa. Esta
prática data desde o século IV.
Na quaresma, que começa na quarta-feira de cinzas e termina na quinta-feira
(até a Missa da Ceia do Senhor, exclusive - Diretório da Liturgia - CNBB) da
Semana Santa, os católicos realizam a preparação para a Páscoa. O período é
reservado para a reflexão, a conversão espiritual. Ou seja, o católico deve se
aproximar de Deus visando o crescimento espiritual. Os fiéis são convidados a
fazerem uma comparação entre suas vidas e a mensagem cristã expressa nos
Evangelhos. Esta comparação significa um recomeço, um renascimento para as
questões espirituais e de crescimento pessoal. O cristão deve intensificar a
prática dos princípios essenciais de sua fé com o objetivo de ser uma pessoa
melhor e proporcionar o bem para os demais.
Essencialmente, o
período é um retiro espiritual voltado à reflexão, onde os cristãos se recolhem
em oração e penitência para preparar o espírito para a acolhida do Cristo Vivo,
Ressuscitado no Domingo de Páscoa. Assim, retomando questões espirituais,
simbolicamente o cristão está renascendo, como Cristo. Todas as religiões têm
períodos voltados à reflexão, eles fazem parte da disciplina religiosa. Cada
doutrina religiosa tem seu calendário específico para seguir. A cor litúrgica
deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência.
Cerca de duzentos anos após o nascimento de Cristo, os cristãos começaram a
preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum. Por
volta do ano 350 d. C., a Igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta
dias. Assim surgiu a Quaresma.
Qual o significado destes 40 dias?
Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material. Os zeros que o seguem
significam o tempo de nossa vida na terra, suas provações e dificuldades.
Portanto, a duração da Quaresma está baseada no símbolo deste número na Bíblia.
Nela, é relatada as passagens dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos
de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de
Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de
começar sua vida pública, dos 400 anos que durou a estada dos judeus no Egito,
entre outras. Esses períodos vêm sempre antes de fatos importantes e se
relacionam com a necessidade de ir criando um clima adequado e dirigindo o coração
para algo que vai acontecer.
O que os cristãos devem fazer no tempo de Quaresma?
A Igreja católica propõe, por meio do Evangelho proclamado na quarta-feira de
cinzas, três grandes linhas de ação: a oração, a penitência e a caridade. Não
somente durante a Quaresma, mas em todos os dias de sua vida, o cristão deve
buscar o Reino de Deus, ou seja, lutar para que exista justiça, a paz e o amor
em toda a humanidade. Os cristãos devem então recolher-se para a reflexão para
se aproximar de Deus. Esta busca inclui a oração, a penitência e a caridade,
esta última como uma conseqüência da penitência.
Ainda é costume jejuar durante este tempo?
Sim, ainda é costume jejuar na Quaresma, ainda que ele seja válido em qualquer
época do ano. A igreja propõe o jejum principalmente como forma de sacrifício,
mas também como uma maneira de educar-se, de ir percebendo que, o que o ser
humano mais necessita é de Deus. Desta forma se justifica as demais
abstinências, elas têm a mesma função.
Oficialmente, o jejum deve ser feito pelos cristãos batizados, na quarta-feira
de cinzas e na sexta-feira santa. Pela lei da igreja, o jejum é obrigatório
nesses dois dias para pessoas entre 18 e 60 anos. Porém, podem ser substituídos
por outros dias na medida da necessidade individual de cada fiel, e também
praticados por crianças e idosos de acordo com suas disponibilidades.
O jejum, assim como todas as penitências, é visto pela igreja como uma forma de
educação no sentido de se privar de algo e reverte-lo em serviços de amor, em
práticas de caridade. Os sacrifícios, que podem ser escolhidos livremente, por
exemplo: um jovem deixa de mascar chicletes por um mês, e o valor que gastaria
nos doces é usado para o bem de alguém necessitado.
Quais são os rituais e tradições associados com este tempo?
As celebrações têm início no Domingo de Ramos, ele significa a entrada triunfal
de Jesus, o começo da Semana Santa. Os ramos simbolizam a vida do Senhor, ou
seja, Domingo de Ramos é entrar na Semana Santa para relembrar aquele momento.
Depois, celebra-se a Ceia do Senhor, realizada na quinta-feira santa, conhecida
também como o lava pés. Ela celebra Jesus criando a eucaristia, a entrega de
Jesus e portanto, o resgate dos pecadores.
Depois, vem a celebração da Sexta-feira da Paixão, também conhecida como
sexta-feira santa, que celebra a morte do Senhor, às 15 horas. Na sexta à noite
geralmente é feita uma procissão ou ainda a Via Sacra, que seria a repetição
das 14 passagens da vida de Jesus.
No sábado à noite, o Sábado de Aleluia, é celebrada a Vigília Pascal, também
conhecida como a Missa do Fogo. Nela o Círio Pascal é acesso, resultando as
cinzas. O significado das cinzas é que do pó viemos e para o pó voltaremos,
sinal de conversão e de que nada somos sem Deus. Um símbolo da renovação de um
ciclo. Os rituais se encerram no domingo, data da ressurreição de Cristo, com a
Missa da Páscoa, que celebra o Cristo vivo.
Fonte:
CNBB- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Arquidiocese de
São Paulo - Vicariato da Comunicação
Pois bem, nos tempos idos, onde o
conceito moral era completamente repressivo, se fazia da quaresma um verdadeiro
calvário.
1 - As
Igrejas se mantinham de luto durante os quarenta dias, dando início na quarta
feira de cinzas, encerrando este ciclo no domingo de páscoa. Costumavam cobrir
seus altares e capelas com panos roxos.
2 - Os
fiéis católicos se abstinham de carne durante todo o período da quaresma em
sinal de respeito aos flagelos que Jesus sofreu para redimir nossos pecados.
3 -
Toda atividade social e artística onde imperasse a alegria e descontração
cessavam.
4 -
Muitos dos fiéis jejuavam, senão o dia todo, ao menos algumas horas diárias. Geralmente na parte da manhã até o horário das
12:00hrs, momento que registra o sofrimento de Jesus até seu desencarne. Na
quarta feira de cinzas e na sexta feira santa, o jejum era praticado durante
todo o dia.
5 -
Evitava-se efetuar negociatas, principalmente de coisas ligadas à vaidade ou a
melhoria das casas.
6 - Os
espelhos eram cobertos com lençóis.
7 -
Dedicavam-se quase que diariamente à vigílias de orações ou então à correntes
de novenas.
8 -
Assimilavam este período com o tempo em que Jesus passou no deserto, onde foi
atentado pelo Diabo. Por esta razão acreditavam que era uma época do ano que o
Demônio estava solto, podendo atentar e prejudicar quem bem entendesse.
Tais posturas eram levadas tão a
sério que na sexta feira da paixão...
- o
jejum era quase que unânime, algumas mulheres deixavam até de amamentar seus
próprios filhos alimentando-os com o leite da ordenha,
- as
pessoas vestiam-se de preto simbolizando o luto pela morte de Jesus,
- não
se limpava as casas, aqueles que moravam em sítios apenas ordenhava as vacas e
colocavam os bezerros para mamar, deixando todo o resto por fazer.
- não
se penteava os cabelos e nem se banhavam
- o
comércio não abriam suas portas
- Havia
quase que uma obrigatoriedade de encenação. Todos deveriam agir exatamente da
mesma forma que agiriam diante de um luto real, sendo assim, adotavam todas as
posturas esperadas de uma pessoa que teve o pai torturado e morto.
Vale ressaltar que qualquer pessoa
que agisse diferente das condições acima citadas, eram mal vistas e faladas por
todos da região onde moravam. Corriam o risco de ser excomungados pelos Padres
devido a postura de desrespeito ao sofrimento de Cristo.
Diante de tudo isso, os terreiros
que funcionavam clandestinamente, devida a opressão e preconceito, se viam
obrigados a cessar seus ritos, temendo ser descobertos caso dessem seguimento
aos seus trabalhos.
Tal postura em conjunto com todas as
crendices, de que o mal era atuante e livre na quaresma foram ano após ano
transmitidas dentro dos terreiros, razão essa que até nos dias de hoje,
encontramos casas que fecham suas portas na quaresma.
Conseguimos nos dias atuais analisar
tais situações de forma mais racional e alcançamos certa compreensão da atuação
do mundo astral, dos vários conceitos de manobra e manipulação do povo por parte
Igreja Católica, dos valores morais conservadores e radicais de outrora e os
terreiros não precisam mais se esconder ao praticar seus trabalhos.
Diante desta crença que a quaresma é
uma época maligna, não podemos negar que é criada uma espécie de egrégora, só
que, do mal, que poderá com toda certeza influenciar qualquer um que nela crer.
Porém, sabemos que o bem e o mal são atuantes todos os dias e o tempo todo e o
que nos liga, seja com o bem ou com o mal, é nossa faixa de vibração, nossa
conduta moral e nossa crença.
Muito se fala das orgias praticadas
no carnaval e me atrevo a perguntar: O que é o carnaval nos dias de hoje se
comparados com os bailes funk realizados todos os finais de semana? E o que é
esta influencia tão maligna da quaresma se comparada com o mundo marginalizado
existente o ano todo?
Sendo assim, o Tucal se posiciona
com a ligação constante e ininterrupta com as emanações de Jesus, atuando e
trabalhando para o auxilio de todos àqueles que buscam melhorar intimamente se
fortalecendo através da religião. E como nos dizem os guias, um pronto socorro
nunca pode fechar suas portas.
Ao invés de temer o mal, vincule-se
ao bem...
Ao invés de temer o Demônio, una-se à
Jesus...
Ao invés de crer que algo ruim possa
acontecer, creia que o bem está em você.
Não temos mais tempo a perder, todo
minuto é pérola valorosa em nossa jornada evolutiva. Sendo assim, vamos
trabalhar confiantes na Misericórdia Divina e na Proteção de todos os Orixás.
Abraços
e Luz,
Mãe
Solange de Iemanjá.