Falando um pouquinho sobre Erês
Agora que já passou o dia 27 de
setembro e 12 do outubro, datas que comemoramos os erês e nossas crianças, vou
conversar um bocadinho sobre os trabalhos realizados nos terreiros.
Sabemos que os pilares dos trabalhos
realizados na Umbanda são: Erês, caboclos e Preto velhos. Essa formação
representa exatamente os ciclos vividos pelo homem encarnado, que nasce
passando pela fase da infância, amadurece entrando na fase produtiva e ativa e
finalmente envelhece, fase que reúne todas as experiências da encarnação que
com certeza o ajudou a evoluir e se prepara para retornar a vida real (vida
astral).
Sendo os erês, caboclos e pretos
velhos, os pilares dos trabalhos realizados materialmente nos terreiros, fica
fácil presumir que tais entidades possuem alto grau de conhecimento,
especialidade em manipulações magnéticas e anímicas que influenciam diretamente
os encarnados, direcionando-os à uma diretriz evolutiva e que a forma de
apresentação não passa de um estereótipo assumido para alcançar o objetivo
desejado. Se é um estereótipo, é porque
não é a verdade, ou seja, se eles assumem essa forma plasmada é porque na
verdade não são nem crianças, nem índios e nem pretos velhos que foram
escravizados. Muitos deles nem passaram por tais experiências em encarnações
passadas mas assumem esta forma como uma diretriz que foi pensada para alcançar
desde o mais simples e humilde dos filhos até os mais cultos. É fato que dentro
de um terreiro, ninguém se sente humilhado, justamente pela forma simples, pela
linguagem fácil adotada pelos guias, porém não se enganem os cultos achando que
vão lidar com ignorantes, pois se surpreenderão com o alto grau de conhecimento
e evolução de tais entidades. Tanto é, que cada vez mais e mais, encontramos
fazendo parte do corpo mediúnico dos terreiros, pessoas com formação superior
como médicos, advogados, engenheiros, etc.
Pois bem, dito isto, quero entrar no
ponto desejado que são as distorções que ocorre, infelizmente, em muitas casas
justamente por ignorância de seus dirigentes e médiuns, nesta fase de
homenagens, nas festas de Cosme e Damião, podemos encontrar vários erês
brincando com carrinhos de controle remoto, bonecas que ligam e falam mamãe e
por ai a fora. Eu pergunto: Qual o objetivo disso? Será mesmo que são os erês
que desejam tais brinquedos? Para que servem tais objetos se a Umbanda lida
diretamente com energias naturais?
Respondendo minhas próprias
perguntas eu digo:
- Não há objetivo algum nesta
prática, pois tais brinquedos não possuem atuação energética alguma. Isto não
quer dizer que os erês não se utilizam de brinquedos em seus trabalhos mas,
seus brinquedos, assim como as guias, cachimbos, punhais e demais acessórios
utilizados pelas entidades, possuem campo de atuação energética e fundamento.
Exemplo disso: O bodoque, também conhecido por estilingue em algumas regiões,
são comumente solicitados pelas entidades que exigem mamona para brincar com
eles. As entidades que solicitam tal brinquedo é porque brincavam com ele
enquanto encarnados? Não, é claro que não. Sabemos muito bem o efeito eficaz
que a mamona possui na limpeza energética negativa, tanto é que vários
trabalhos pesados de limpeza realizados pelos Exús a mamona é utilizada. A
madeira do corpo do bodoque é utilizada como um ponto isolante de energia,
assim como a cruz de madeira no rosário do perto velho, como o coquinho na guia
do baiano, etc.
As bonecas de pano, recheadas com
algodão, possuem também suas funções energéticas, onde potencializam energias
manipuladas pelas entidades, assim como as essências dos caboclos, as ervas
usadas pelos pretos velhos.
Podemos então compreender que tais
brinquedos, que de antemão nos parece singelos, e que muitos imaginam se tratar
de brinquedos do passado, nada mais são que instrumentos de trabalho, fontes
energéticas e de manipulação magnética. E assim, sem perder a essência da
energia que trabalham, utilizando de brinquedos, as entidades que se apresentam
no estereótipo de erê influenciam, limpam, descarregam e equilibram todos
aqueles que diante deles passarem.
Então porque que várias entidades pedem os
carrinhos de controle remoto e bonecas modernas? É fácil responder esta
questão, já que todo trabalho é realizado em conjunto com o médium, ou seja,
não existe trabalho mediúnico realizado única e exclusivamente pela entidade.
Todo trabalho é composto pela entidade em conjunto com o médium (parte anímica)
e é a falta de compreensão do médium que querendo agradar, por achar bonito,
acaba influenciando nesta escolha.
Ah, então estou dizendo que os
médiuns fingem quando pedem esses brinquedos? Não, e absolutamente não. Apenas
estou dizendo que os médiuns acreditam verdadeiramente que a entidade possui
este desejo, justamente por falta de compreensão da religião que praticam.
Entra aqui a questão do animismo que prometo, em breve, falar a respeito.
O animismo é o grande bicho papão do
médium e muitos não se dão conta do quanto ele é atuante e o quanto influencia
diretamente nos trabalhos. Tanto é que cansamos de ver as pessoas dizendo: -
Não mexa com Ogum, pois ele é impaciente e muito bravo. E não se dão conta do
tamanho do absurdo que dizem.
Darei abaixo uma representação
simples das energias emanadas pelos Orixás, que são os regentes planetários
portanto, criadores, sustentadores e mantenedores de tudo que é vivo e de tudo
que existe em nosso planeta e assim todos poderão vislumbrar a perfeição desses
regentes.
Imaginem uma planta que chegou a um
ponto que produziu sementes. Numa tarde, entrando a boquinha da noite uma forte
ventarola balança essa planta derrubando a semente ao chão. Dia após dia, o
vento vem remexendo a superfície da terra e das folhas, a passagem dos animais
também revolve essa terra com suas patas e assim a semente acaba sendo
encoberta. Temos aqui Iansã, Orixá do movimento, que se manifesta para que tudo
alcance o destino desejado.
A semente enterrada entra num
processo de espera, sendo cuidadosamente alimentada pela umidade do solo, até
que chega o momento de brotar. Temos aqui a influência de Oxúm, Orixá responsável
pelo cuidado com a geração da vida.
A semente se rasga quase que
completamente para que as primeiras folhinhas e raízes se criem. Temos neste
momento Iemanjá, Orixá que é a fonte da nova vida.
Alcançado este estágio é necessário
que esta tão frágil planta, tenha força e determinação para romper toda aquela
terra que a encobriu e proporcionou a germinação e assim apontar para a vida.
Temos aqui Ogum, Orixá responsável pela força e determinação, aquele que é
destemido e pronto para enfrentar a vida.
O broto finalmente inicia seu
crescimento no sentido vertical e é necessário que se mantenha em pé e
equilibrado, para tanto suas raízes sabiamente se espalham lateralmente e se
agarram à terra e seu caule possuí um grau de flexibilidade perfeito para
suportar os ventos, as chuvas e demais intempéries da natureza. Temos aqui
Xangô, Orixá detentor da sabedoria, do equilíbrio.
Chega então a fase madura, onde os
frutos ou as folhas estão prontas para serem consumidas e assim alimentar,
curar, abrigar e equilibrar a qualidade do ar para todos aqueles que dependem
desta fonte para a vida. Temos aqui Oxossí e Ossãe, Orixás responsáveis pela
manutenção da vida.
Nesta fase também temos as flores
com suas cores e aromas, temos as frutas com seus sabores. E aqui encontramos
Ibejí, Orixá responsável pela doçura, pela alegria e pela harmonia.
Vejam bem, neste pequeno processo de
germinação de uma simples semente, podemos observar o quão perfeito é o
processo criador, o quão elevado é o grau de inteligência dos Orixás e como
tudo é voltado para o positivo, para o belo, para a abundância, para a vida e
evolução, influenciando todos os seres vivos existente neste planeta. Sendo
assim, todos os seres humanos, da mesma força sofrem essas influências. Que culpa tem Ogum se nos utilizamos da força
e determinação emanada por ele de uma forma negativa, e ainda ousando a
justificar nossas grosserias, estupidez e ignorância à sua influência? E da
mesma forma fazemos isso com todos os Orixás, atribuindo à eles as origens de
todas nossas imperfeições. Já é chegada a hora de assumirmos a verdade e
delegar os defeitos e qualidades a quem é de direito, ou seja, a nós mesmos.
Pois, tudo que vem do pólo Criador é perfeito e positivo.
Eu sei que no texto de hoje estou
mexendo com muitos médiuns que acompanham nosso trabalho e sei também que neste
momento estarão pensando no que fazer, pois justamente neste ano o erê pediu um
carrinho legal, um relógio, um computador. Como voltar atrás? Passarei vexame!
Deixarei dúvidas em relação ao trabalho que realizo? Estes podem ser os
pensamentos neste momento.
Eu digo com toda certeza: Não temam.
Corrijam o que está fora do real. Lembre-se de que sempre fazemos as coisas
imaginando que estamos fazendo o melhor, porque tudo o que fazemos está de
acordo com nosso grau evolutivo e de compreensão e se você leu esta matéria é
porque está pronto para agir de maneira diferente. Seja verdadeiro com você
mesmo e tenha sempre em mente que a evolução só se dá com a quebra de velhos
conceitos, com o experimento do novo e com mente aberta para mudança.
Abraços
e Luz,
Mãe
Solange de Iemanjá
16.10.12